PRODUÇÃO POÉTICA

15 de mai. de 2010

PRODUÇÃO POÉTICA

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Algumas Palavras

Os trabalhos em seu conjunto são gerados pela necessidade intuitiva de estabelecer um paralelo entre a ciência e o pensamento humano dentro de uma abordagem poética, fundamentando a obra no processo criativo da natureza e na evolução dos seres vivos. O interesse pela biologia e pelas questões ambientais conduziu a escolha da formação inicial em ciências físicas e biológicas, da posterior atuação profissional como consultora ambiental e finalmente, sedimentou-se no processo de desenvolvimento artístico, incorporando implicitamente na produção conteúdos que envolvem noções de sustentabilidade e de biologia do SER.

Investigo a dinâmica das relações entre o homem e o espaço que cria e transforma, o modo como ele percebe e interage com este espaço na sua condição não–capturável pela constante transformação no tempo, e o movimento decorrente dessa dinâmica. Interesso-me pelas zonas de transição e intersecção entre o objeto e a luz, entre a pausa e o movimento, entre o público e o privado, entre o palpável e o não palpável, entre a realidade e a imagem. Estes lugares estreitos, mistos, tensos e contaminados, situam-se nos limites de territórios que se confrontam. São campos não decifrados e constituem zonas vibrantes de comunicação e de transformação. Procuro experimentar regiões intersticiais e de sobreposição “dentro do entre” que favoreçam uma percepção consciente do corpo vivo, habitá-las e expandi-las.

Com a atmosfera criada através do diálogo entre os sons e as imagens ampliadas em grandes formatos, almejo construir ambientes nos quais sensibilidade, sensação e intelecto possam ser ativados intensamente e simultaneamente, onde a fruição do corpo vivo em um estado amplificado de afetividade e de consciência (awareness) aconteça. Quero subverter poeticamente as restrições espaço/temporais, romper com as referências habituais e propor a vivência perceptiva de lugares onde a integração entre sujeito, espaço e tempo aconteça de outras maneiras, onde um presente contínuo, suspenso e ampliado, com movimento, pulsação e ritmo, possa ser experimentado. O intuito é vivenciar o corpo desperto por inteiro, alcançar um “estado de ser” no gerúndio (“state of being”, termo empregado por Robert Morris) dentro de um lugar de conexão e fronteira no qual a experiência direta e a indireta já não se diferenciem, onde externo e interno estejam entrelaçados, onde haja uma simbiose entre corpo, espaço-tempo e alteridade.

Almejo também, ao incorporar o fluxo dos acontecimentos, alcançar uma situação vibrante, sensível, sutil e criativa de sincronicidade entre o SER e o ESTAR, experimentar um espaço-tempo ontológico do “self” entre a memória e a entropia, no qual possa haver uma fusão, um lugar que reúna em um plano comum o sujeito e o meio, onde a percepção do estado de existir tanto na condição de indivíduo como na de parte de um coletivo seja intensificada.

Biografico

Monique Allain, artista, pesquisadora e educadora, filha de pai francês e mãe mexicana, nasceu, vive e trabalha em São Paulo (1958). É mestre em Artes Visuais pela FASM-SP, bacharel em Artes Plásticas pela FAAP-SP (2007), formada com Licenciatura em Ciências Físicas e Biológicas (1980), com pós-graduação em Genética (1982) pela USP-RP.

Iniciou sua atuação profissional trabalhando com o meio ambiente. Envolveu-se com a S.T.A.R.T., ONG voltada para o combate ao tráfico de fauna silvestre, auxiliou e participou como voluntária em diversas iniciativas promovidas pela organização (1995-1996). Trabalhou como consultora ambiental com o “Terra Capital Found”, primeiro fundo do mundo destinado a capitalizar projetos empresariais voltados para a preservação da biodiversidade (1997-1998).

Migrou para as artes visuais, iniciando sua produção poética em 1999. Trabalhou com produção cultural na Casa das Rosas (Unidade da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo) sob a direção de José Roberto Aguilar (2000-2001). Desenvolveu e coordenou o projeto social-pedagógico Livro Aberto junto aos grafiteiros do Projeto Escola Aprendiz (2004-2005). Em parceria com o artista Dácio Bicudo, abriu, concebeu e coordenou o espaço de ações artísticas coletivas CEL 1121 (2005-2006). Foi residente na Cité Internationale des Arts, em Paris com bolsa concedida pela FAAP (2008). Participou do The Maumaus Independent Study Programme Lisbon at the 29th São Paulo Biennial (2010).

Integra o Grupo de Pesquisa Arte & Meios Tecnológicos (CNPq/FASM, 2007-2012) e o Grupo de Pesquisa em Processos de Criação (CNPq/PUCSP, 2012). É associada à ANPAP (Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas) desde 2008.

Vem participando de exposições no Brasil e no exterior em espaços institucionais, públicos e urbanos, museus e galerias.

Ao realizar instalações audiovisuais, ações coletivas, e intervenções urbanas participativas, propõe situações de encontro e de troca com o espaço e com a alteridade, visando com isso obter uma expansão na percepção simultanea de si como sujeito e como parte de um coletivo, dentro de uma concepção social e biológica. Utiliza diversos meios, dentre os quais se destacam a fotografia, o vídeo e recursos eletrônicos.

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